O azul do céu e a verde cor do mar confundiam-lhe a
vista numa linha reta no infinito, mas isso não importava no momento. A preocupação era com a volta à casa depois de
tantos anos e tão importante quanto o barco rasgando as águas no gemido rouco
do motor. Seus olhos, os pensamentos e o
casco do barco avançavam na intenção da praia batendo as ondas de um passado
não tão remoto, mas triste por ter dito adeus a quem não esperava. Caminho encrespado, ondulado, salpicando lágrimas
de maresia. Horas de sol na cara, onda entortando
a proa aspergindo água pra cada lado. Peito
apertado sem saber se ela o receberia. Vestido branco, fino, solto sobre a pele
amorenada de sol. Pés descalços chutando marolas, correndo na areia. Cabelo solto
aos beijos do vento, lembrança que não sai do pensamento. Saudade do toque, do abraço
sem jeito, do beijo molhado, da falta de vergonha e do respeito. Do sorriso escachado,
das safadezas no leito.
- Duas horas sem ouvir o canto das
gaivotas. Só o barulho do motor empurrando
o vento. No jardim da casa, antes, muitas flores brancas e na entrada
uma leva
de rosas amarelas. Hoje, sem cor,
desbotada, morta. Borboletas pintadas numa tela era como se pensava ver a
natureza; uma linda aquarela. Voavam numa rota estranha em torno do
corpo dela.
Trazia na testa a segurar-lhe os cabelos negros uma fita amarrada, como
donzela. Braços cruzados, debruçada na janela olhos perdidos
no infinito do azul do mar, talvez, a sua espera.
Um grito, um tiro, correria. Num sobressalto
vazou de onde se estendia e na cidade o silêncio. Nada se movia. Só a tevê no último volume que um filme de bangue-bangue
exibia. Não fosse esse pequeno impasse, com certeza, ele dormia.
ESCRITO POR SILVIOAFONSO
Lindo dia Becca!
ResponderExcluirPassando,lendo e deixando beijos meus
com saudades.