terça-feira, 3 de julho de 2012

O DIA DO MASCATE

Luiz Bolinha, como era conhecido pelos amigos, era mascate, um tipo de vendedor de bugiganga que saia de cidade em cidade negociando seus produtos. Era um tipo interessante, brincalhão, fascinante por assim dizer.  Um garotão, como Zé Klein o definia. Bolinha não viajava sem antes preparar seu plano de voo. Jamais deixou de programar o seu dia e quando dizia adeus  a sua gente era sinal de que sabia para onde ir e o que fazer,  em quais pensões faria as suas refeições e  em que hotel descansaria o corpo.  Luiz Bolinha tinha reservado sua vaga nos Hotéis aonde pernoitaria,  mas naquele em que chegaria mais tarde ele esqueceu de agendar.  Conclusão; foi dormir de favor na casa de um velho aposentado que fazia questão de ajudar aos que a ele recorriam. Não fosse a enfisema levar o velho ao posto de saúde da cidade e Luiz Bolinha teria dormido no banco da praça, depois, é claro, da permissão de Bruno e Marrone e a vista grossa do guarda que fizesse a ronda.
     A casa do seu Nenéu, o velho que socorreu Luiz Bolinha,  era muito simples e o seu dono generoso por demais. A casa era humilde e limpa. O banheiro era digno de elogios. O lençol que recebeu para cobrir o colchonete cheirava a flor e a colcha tinha o perfume da bondade. Isso sem contar com o sorriso franco e generoso  como nunca viu igual.  Depois de uma boa chuveirada o visitante se deitou no colchonete ao longo do corredor  atrapalhando quem  precisasse passar ali. Então cerrou seus olhos e dormiu. Dormiu até que os gemidos no quarto em frente o acordaram. Bolinha ficou sem saber o que  fazer. Estava muito cansado, pingando de sono e mesmo não se esquecendo de que estava de favor na casa de um desconhecido que o recebeu como a um parente, um amigo, Luiz Bolinha se encheu de curiosidade.  A cama no quarto ao lado fazia barulho e os gemidos que acordaram Bolinha, eram de mulher. Uma dúvida, porém, baratinou Luiz; como aquele velho doente, até agora a pouco, conseguia tal façanha? Que tipo de mulher seria aquela que transformava um velho asmático num macho, garanhão?  
      Bolinha cobriu a cabeça com o travesseiro, mas quando pensou que podia dormir, um grito agudo o pôs de pé. Agora Luiz, esquecendo-se do respeito e da gratidão, do sono e do cansaço, procurou saber o que acontecia por detrás daquela  porta. A voz era de homem que romântico pedia a mulher que o permitisse fazer com ela  alguma coisa que o mascate não ficou sabendo.  Curioso, Luiz Bolinha tentou olhar através da fechadura, mas nada viu. Um suspiro mais profundo precedeu ao silêncio e mais tarde os gemidos foram substituídos por roncos que começaram no quarto ao lado de onde tais sussurros tiveram início para mais tarde retumbavam na casa inteira. 


Retirado do blogger: Palhaço Poeta e escrevinhado por Silvio Afonso.

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